O trecho de Lucas 10:25-37, que traz a belíssima Parábola do Bom Samaritano. Esta passagem é uma das mais profundas do Evangelho e oferece uma rica simbologia espiritual quando interpretada sob uma ótica metafísica.
📖 Texto-base: Lucas 10:25-37
Um doutor da Lei pergunta a Jesus: “Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?” Jesus o convida a responder com base na própria Lei, e ele diz:
“Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com toda a tua inteligência, e ao teu próximo como a ti mesmo.”
Jesus confirma e, ao ser questionado “Quem é o meu próximo?”, conta a parábola do homem assaltado no caminho de Jerusalém a Jericó.
🧠 Leitura Metafísica
O CAMINHO DE JERUSALÉM A JERICÓ
Simboliza a descida da consciência espiritual (Jerusalém) à consciência material e mundana (Jericó). O ser humano, ao sair do estado elevado da alma, mergulha na dualidade, no sofrimento, nos conflitos da vida material. É nesse “caminho descendente” que o ego se torna vulnerável.
O HOMEM ASSALTADO
Representa a alma humana ferida pela ignorância, pelos medos, pelos apegos e pelos instintos do mundo. Esse homem despido e semi-morto somos todos nós, quando nos afastamos da centelha divina interior e nos perdemos na estrada do ego, do orgulho, da culpa e da vaidade.
OS ASSALTANTES
São as forças internas que roubam nossa paz e nosso estado natural de comunhão com o divino. Inveja, raiva, julgamento, mágoas. Tudo aquilo que nos assalta emocionalmente e nos derruba espiritualmente.
O SACERDOTE E O LEVITA
Ambos passam de largo. Representam as práticas religiosas sem compaixão ou as estruturas mentais dogmáticas e racionais que, embora possuam conhecimento, não tocam verdadeiramente o coração. São os aspectos da mente que julgam, racionalizam, mas não curam. Ou seja, o conhecimento sem amor é estéril.
“Passaram, viram… e seguiram adiante.”
A mente vê o problema, mas não sente. Apenas o coração em compaixão pode curar.
O BOM SAMARITANO
É a imagem do Cristo interior. Representa o amor compassivo, a alma desperta que não olha etnias, crenças, classe social ou dogmas. O samaritano era desprezado pelos judeus, e é justamente ele quem se aproxima, sente compaixão e age.
Ele simboliza o Eu Superior, que vê a dor da alma e age com misericórdia, curando com óleo (espiritualidade) e vinho (amor divino), colocando a alma em seu próprio animal (corpo a serviço do espírito) e levando-a à estalagem (a consciência do acolhimento e da cura interior).
A ESTALAGEM
É o espaço interno da alma onde ocorre a restauração. Pode ser interpretada como um período de reclusão, um templo interior, ou até mesmo um momento de ajuda terapêutica ou espiritual. O samaritano promete voltar, mostrando que o processo de cura é contínuo e sustentado pela presença constante do Cristo interno.
🪞 Reflexão Metafísica Final
A pergunta que dá origem à parábola é:
“Quem é o meu próximo?”
Mas Jesus inverte a lógica e termina dizendo:
“Vai e faze tu o mesmo.”
A grande virada espiritual está aqui: o próximo não é apenas o outro, mas é aquele a quem decidimos ser próximos. Não é sobre quem merece nosso amor, mas sobre a escolha de amar sem condição. A compaixão não é um sentimento, é uma ação.
A leitura metafísica nos convida a:
- Descer conscientemente de Jerusalém a Jericó, mas sem perder a lucidez do espírito.
- Curar as feridas da alma com o vinho da presença e o óleo da oração.
- Reconhecer quando estamos como o homem caído e permitir que o Cristo interno nos levante.
- Ser o samaritano da nossa própria jornada e também da jornada do outro.